As intensidades de um sentimento


Creio que a intensidade de um sentimento tem que ver com o número de elementos a que se aplica. Penso assim que ele varia na razão inversa do número desses elementos. Quanto maior for o número de filhos, menor é a alegria ou o desgosto que cada um provoca ao pai. O máximo de sentir diz respeito a todos e divide-se portanto por cada um. Se um indivíduo é o chefe de um povo, transfere para a colectividade a sua capacidade de sentir. Assim ele é praticamente insensível perante a sorte de cada um. A famosa insensibilidade de um chefe tem que ver com isso. O mesmo para o autodomínio que se refere a um indivíduo particular. Julgo que na realidade se trata de uma distribuição do seu sentir por vários elementos dos quais por exemplo os filhos (ou ele próprio) são apenas uma fracção. O resto dessa fracção pode ir para os seus negócios, o seu partido político, os seus amigos ou amantes, o seu clube. E então o admitável autodomínio tem apenas que ver com uma parcela do sentir. E com essa parcela já se pode ser forte e aguentar. Isto, se se não trata apenas, como julgo já ter dito, de uma alienação da emotividade e seu motivo, ou seja de um apartá-los de si, de um torná-los estranhos, ou alheios, como na situação vulgar de uma dor que é dos outros e nos não diz portanto respeito. É, de resto, o que até certo ponto eu tento aqui com o caso do Lúcio, reduzindo-o à escrita, ou seja objectivando-o, ou seja, separando-o de mim.

Escrito por Vergílio Ferreira

Fonte:  http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200807220900&author=335

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Microfixo


Passos soltos num interior desdobrado
Não são os rios que não correm
é o sol que é meio decorado

Descobrir autenticidade num som com pouca sensibilidade

Mostra os dentes
Cruze os dedos obedientes
aperta a tampa na busca de um encontro

no olhar de lado a ver se sai melhor do que a voz desafinada
num passo descompassado que não vale nada

Perdição num sonho
para espanto do submundo
vá toca a corneta
super chupeta
horizonte que fez ponte com o pôr-do-sol
Cacique que se equivale ao soba na sanzala, bate pála Camarada

Chora ao picar a cebola e quiça fosse o limão da Mariquinha

Toda boazinha, mas não sabia o que a esperava
sorria, corria, lavava, safava

sacrifica por um microfixo móvel

Sobrou-lhe muito no céu, enquanto a terra dura era
o que é bom dura pouco e o pouco sabe a muito
muito mais ainda o tempo que não passo contigo

muito embora saiba falar sem gesticular
controlo a velocidade dos olhos e a do coração sem òculos....

Escrito por: Marlene Silva
1Abr11

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